A Feira do Livro de Londres: Um Livro Aberto ao Futuro dos Audiolivros

A Feira do Livro de Londres, @The London Book Fair, foi, na minha opinião, um verdadeiro livro aberto sobre o futuro dos audiolivros. Este ano, os temas em destaque foram o futuro da narração, a revolução dos podcasts, a adaptação de conteúdos para áudio e as estratégias de produção e distribuição.

Foram mais de 10 painéis dedicados aos audiolivros, oferecendo a quem quisesse ouvir uma visão aprofundada sobre o que está para vir. E claro, falou-se muito sobre Inteligência Artificial. Mas, para surpresa de alguns (não minha, que venho a alertar para isto há anos), também se falou de Locução. Humana. Sim, essa mesma.

A performance do locutor continua a ser a chave de um bom audiolivro. Essa ideia foi repetida, de diferentes formas, por vários especialistas da área, incluindo @Nathan Hull. Como costumo dizer, uma excelente obra pode ser um fracasso se não tiver o narrador certo. E, infelizmente, isso ainda acontece no mercado português.

Estamos a melhorar? Estamos. Mas ainda há desafios. Falta de preparação dos locutores (o mínimo que se espera de um profissional), falta de direção de vozes (como bem destacou @Vanessa Bonomo recentemente) e, acima de tudo, falta de sensibilidade e bom senso em todo o processo de criação.

É claro que há audiolivros em Português de Portugal muito bem produzidos. Não digo que o que está feito está mal. Mas podemos, e mais importante, sabemos fazer melhor. Temos profissionais talentosos. Então, o que falta?

Falta união. Se queremos que a língua portuguesa (PT) e os nossos brilhantes autores tenham mais presença no mercado global de audiolivros, temos de trabalhar juntos. O setor em Portugal ainda está em fase embrionária, e sem uma visão coletiva, será difícil avançar.

 

O Que Podemos Aprender Com Outros Países?

A Grécia marcou presença na feira e é um excelente exemplo de resiliência. Um país com dificuldades económicas, mas que avança sem medo. Em outubro passado, estive lá a gravar uma série de audiolivros infantis para uma autora independente e tive a oportunidade de perceber melhor esta mentalidade.

Durante a feira, @Michalis Kalamaras mencionou que o Ministro da Educação Grego anunciou uma nova app de audiolivros, eVivlio, com 20 títulos da literatura clássica grega e internacional. Ou seja, há um esforço para expandir o setor.

A Croácia também me surpreendeu. A BOOK&ZVOOK, por exemplo, aposta exclusivamente em narradores humanos. O resultado? Produções tão bem feitas que, mesmo sem entender croata, fiquei presa à expressividade das vozes.

Por outro lado, o próprio áudio da Feira do Livro de Londres foi dececionante. A única experiência realmente imersiva foi através da app croata. Isto levanta uma questão: onde podemos ouvir audiolivros durante a feira? Como podemos criar imersão com vozes de narradores e efeitos sonoros num espaço tridimensional? Fica o desafio para a @Feira de Frankfurt.

 

O Crescimento Global e Portugal

O mercado está a expandir-se para além das línguas tradicionais do setor (inglês, alemão e espanhol). O árabe, por exemplo, está a crescer rapidamente. Nos EUA, onde os audiolivros dominam, há muitas casas onde só se fala árabe.

Isto leva-me a perguntar: em cada país, quais são as línguas mais faladas pelos emigrantes em casa? E no caso de Portugal, que tem uma diáspora enorme, não deveríamos estar a pensar em formas de levar mais audiolivros em português para estas comunidades?

Além disso, devemos olhar para o futuro e para as novas gerações. Como podemos tornar os audiolivros mais acessíveis, sustentáveis e apelativos para as crianças? Não me venham falar dos custos, dos “ses” e dos “mas”. Mentalidade de crescimento. É disso que precisamos, não de um pensamento fixo nos problemas.

 

Brasil, Um Exemplo a Seguir

Muitos acham que, porque o Brasil já tem um mercado consolidado, não vale a pena investir no português PT. Mas o Brasil esteve presente na feira com o projeto @Brazilian Publishers e fez um excelente trabalho a criar oportunidades de negociação e parcerias.

Fiquei orgulhosa de ver a nossa língua representada, mas ao mesmo tempo triste por não termos uma presença institucional portuguesa, como a @APEL. Os motivos? Esses podem ser tema para outra publicação. Mas o que importa é que o Brasil não perde tempo a lamentar-se: foca-se nas soluções e faz acontecer.

Tive também conversas interessantes com a Carolina da @Elevenlabs e destaco a @Pozotron, que tem um software fantástico para ajudar os locutores na pré-produçã, (e também;produção, e pós produção de audiolivros) , uma das fases mais importantes do processo.

 

Um Pedido ao Governo Português

Um apelo aos setores da Cultura e da Educação em Portugal: a língua portuguesa merece mais apoio.

Portugal, o país onde esta língua nasceu, precisa de estar representado nestes eventos. O mercado dos audiolivros está a crescer e, para o ano, gostava de ver a nossa bandeira na Feira do Livro de Londres.

O futuro está à nossa frente. Só temos de decidir se queremos fazer parte dele.

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