Ninguém sabe o que é no meu caso, ter 36 anos de carreira (completos no próximo dia 01 de novembro) e recomeçar tudo de novo num país onde a língua materna é posta em muitos planos atrás!!
E não, não me estou a queixar!
Apenas a realidade de uns não é a de outros!
Ainda ontem perdi um trabalho, porque ao mudar de casa aqui no UK, tive de vender o meu “ Booth “, que é um estúdio desmontável, porque a nova casa e condições de vida não permitiam.
Gravar no armário pode ser uma opção? Pode. Mas não é assim que quero trabalhar!
35 anos de uma carreira, mas a recomeçar tudo de novo há 7 anos e noutros país, onde a língua materna não é a mesma, é dose!
E diria, triplamente menos fácil!
E reparem, eu não disse: mais difícil. Disse: menos fácil!
As palavras têm muito poder e de facto tudo acontece na nossa mente! Até muitas vezes problemas vocais. Mas essa é outra conversa para outro dia.
Importa mesmo é termos uma mentalidade de crescimento. Ponto. E percebermos se o que estamos a fazer não está a dar certo, è porque não o estamos a fazer corretamente!
A propósito de uma publicação que recentemente pus na página do meu Instagram, um ex-aluno argumentou que aquilo que eu defendo Não era verdade , segundo as conversas que o mesmo tinha tido com muitos locutores portugueses, e que o mercado vai buscar sempre os mesmos, e que eu pertencia a uma elite (o normal porque os estúdios precisam de gente já apta, não são entidades formadoras, e usam por segurança o que sabem que funciona, e fazem muito bem, pois tempo é dinheiro.)
Fiquei a pensar nisto.
Realmente eu pertenço a uma elite aí em Portugal, onde os estúdios mesmo quando estou em Portugal e aviso, já não me chamam para fazer trabalhos como chamavam há 7 anos quando aí vivia.
Realmente eu pertenço a uma elite, onde a maior parte da minha carreira foi feita a bater às portas dos estúdios, com uma cassete na mão, vinha do Cartaxo de Comboio para Lisboa e corria de transportes públicos, mais tarde de carro, todos os estúdios que conhecia ou tentava conhecer usando as páginas amarelas, e telefonando para lá a pedir a morada correta e a perguntar se podia lá ir deixar uma demo, ao que muitos respondiam: poder pode… não sei é se aceitamos novas vozes.
Realmente eu pertenço a uma elite, onde há cerca de 36 anos quando comecei, grandes locutores agora meus colegas de rádio e tv, passavam por mim nem bom dia me davam quando eu lhes dava bom dia, e achavam que eu estava ali para lhes roubar trabalho.
Realmente eu pertenço a uma elite, onde para ter tido a oportunidade de entrar numa rádio nacional, preparei-me primeiro em vários rádios locais, e mandei o meu CV via CTT, todos os meses durante anos para a rádio onde queria trabalhar, com o objetivo do mesmo estar sempre no molho dos CVS, mas que fosse dos primeiros a ser visto por ordem de chegada. E foi!
Realmente eu pertenço a uma elite, onde informações acerca do nosso aparelho vocal não existiam, terapeutas da voz especializados em voz, eram pouquíssimos ou nenhuns, e quando se tinham problemas vocais, ficava tempos sem trabalhar! Realmente eu pertenço a uma elite, onde se ganhava muito bem, mas onde estávamos meses sem ganhar nada!
Realmente eu pertenço a uma elite onde o tempo à procura de trabalho e de estúdios para trabalhar levava mais tempo do que atualmente!
E podia continuar!
Mas na realidade, a minha elite deve ser diferente de centenas de locutores que este meu aluno entrevistou. Porque eu nunca desisti do meu sonho e sempre procurei trabalho.
Ok. Não apareço na tv, e cunhas não tenho. Fazer Publicidade para tv e rádio acontece menos frequentemente do que desejava. Mas eu pertenço a uma elite onde para mim trabalhar em Locução não é só televisão e rádio!
Porque eu pertenço a uma elite, onde ainda hoje, todos os dias mandos emails para aqui e para acolá, faço contactos por telefone (apesar de muitos deles serem agora feitos no UK) e que trabalha por amor à profissão não olhando para o SER-SE conhecido, e que preza pela ética e deontologia profissional, e que não se conforma até ter atingido o seu objetivo!
Eu pertenço a uma Elite em que se quiser refazer a minha vida profissional de hoje para amanhã aí em Portugal, muitas portas que abri, já se fecharam por vários motivos, e muitos deles nada comigo ou com a minha competência profissional têm a ver. Mas as coisas mudam. Ou seja, terei de recomeçar de novo. A diferença é que sei por onde.
Eu pertenço a uma elite, que se intitula; NÃO VOU DEIXAR DE SONHAR, com este amor que é a VOZ e a LOCUÇÃO, e a RÁDIO claro!
E por isso eu vou tendo muito trabalho graças a mim, e se quiserem a DEUS!
Entrevistem quem entrevistarem dentro da área!
E mais uma vez repito: Locução e Dobragem, não é só Televisão, e para chegarmos a quase 36 anos de profissão, 7 dos quais que parecem mais um recomeço de carreira, temos de amar muito o que fazemos!
Boas Locuções!
Tão de acordo!
Não me esqueço dos inúmeros CVs que enviei por carta (sim, por carta), por email, as portas às quais bati e sim, a ajuda de colegas.
Uma vez à saída da extinta Nacional Flmes dizem-me: estou aqui a arrumar coisas e já encontrei 6 CVs teus com pedidos de um teste.
Ouvi o antigo dono de um conhecido estúdio dizer-me: não tens voz de companhia e vozes como a tua há a pontapé.
No meus primeiros anos de trabalho não sei dizer quantos trabalhos ganhei porque… chegava a horas.
Tenho imensos altos, felizmente. Tenho incontáveis baixos.
Trabalhamos num mercado sem regras, onde os valores são os mesmos há décadas, onde a nossa experiência é qualidade do nosso trabalho nos vale apenas às vezes.
O que falas dos terapeutas de fala, do conhecimento fisiológico do nosso instrumento de trabalho, assino por baixo.
Tirando raras exceções, a minha vida de elitista é uma busca constante por trabalho, por valores justos, por pagamento atempado, por condições de trabalho, e conhecimento.
A gestão da nossa carreira não difere muito da gestão de uma empresa. Não é só abrir a boca e falar.
Não há lugar para todos o que pretendem entrar na nossa profissão, no nosso mercado, admito. O mesmo se aplica a qualquer outra profissão.
Somos um (não tão) pequeno grupo porque o mercado é pequeno. Daí a sermos uma elite, vai uma imensa distância.